Mercados seguem a reboque das sobretaxas impostas pelo presidente americano. Mundo repercute acordo EUA-UE e Brasil vê impasse na negociação
Carlos Rydlewski/Metrópoles

O dólar registrou alta de 0,52% em relação ao real, cotado a R$ 5,59, nesta sexta-feira (28/7). Já o Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira (B3), fechou o dia em queda de 1,05%, aos 132.127 pontos. Os dois mercados – tanto o de câmbio como o de ações – tiveram como principal vetor as notícias sobre o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em relação ao tema, no cenário interno, segue o impasse sobre as negociações entre Brasil e EUA. Em 9 de julho, Trump anunciou sobretaxa de 50% sobre os produtos importados pelos brasileiros. A medida deve começar a valer nesta sexta-feira, 1º de agosto. Até agora, não há perspectiva de adiamento da cobrança.
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No mundo, os investidores repercutiram o anúncio do acordo entre EUA e União Europeia, divulgado no domingo. Ele estabeleceu tarifas de 15% sobre a maior parte das importações do bloco europeu para os americanos, abaixo dos 30% fixados inicialmente por Trump. O acerto comercial garantiu ainda a compra de US$ 150 bilhões em energia por parte da UE, além de investimentos europeus adicionais de US$ 600 bilhões.
Força do dólar
Como resultado dessas medidas, houve um fortalecimento global do dólar nesta segunda-feira. Às 9h50, o índice DXY, que mede a força da moeda americana frente a uma cesta de seis divisas de países desenvolvidos, anotava elevação de 0,59%. Às 16 horas, esse aumento já era superior a 1%. Moedas de países emergentes também cediam frente ao dólar nesse horário. O peso mexicano caía 1,22% e o peso colombiano recuava 0,93%.
O entendimento com os EUA, no entanto, não foi bem-recebido por alguns líderes da UE. O primeiro-ministro francês, François Bayrou, por exemplo, disse, em postagem no “X” que o momento do acordo foi um “dia sombrio para os europeus”, uma vez que o bloco se mostrou “submisso” aos interesses americanos.
Europeus desanimados
Os investidores também não se animaram com as medidas anunciadas. As bolsas europeias fecharam em queda. O índice Stoxx 600, que reúne empresas de 17 países, fechou em queda de 0,23%. As ações do setor automotivo recuaram 0,78%. O DAX, de Frankfurt, baixou 1,02% e o CAC 40, da França, caiu 0,43%. Esse foi o mesmo valor da baixa do FTSE 100, de Londres.
Na leitura de analistas internacionais, embora o acordo tenha reduzido as incertezas sobre as relações comerciais entre EUA e UE, o patamar das tarifas americanas sobre importados europeus aumentou cerca de seis vezes em relação aos níveis vigentes antes do Dia da Libertação, quando Trump anunciou as novas sobretaxas.
Bolsas americanas
No mercado de capitais dos EUA, as notícias não melhoraram o humor dos investidores. Às 16 horas, dois dos principais índices de Nova York operavam em baixa. O S&P 500 caía 0,11% e o Dow Jones recuava 0,24%. O Nasdaq, que concentra empresas do setor de tecnologia, ia no sentido contrário com elevação de 0,18%.
Cenário interno
Na avaliação de Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, a alta do dólar em relação ao real foi resultado destes dois fatores: de um lado, o impasse em relação ao tarifaço aplicado contra o Brasil e, de outro, o acordo EUA- UE. “Mesmo diante das valorizações das commodities, como minério de ferro e petróleo, a cautela prevaleceu nos mercados emergentes, aumentando a demanda por proteção cambial”, diz o analista.
Shahini acrescenta que outro fator que está no radar dos investidores é a definição dos juros básicos tanto no Brasil como nos EUA. As taxas serão anunciadas nesta quarta-feira (30/7), depois de reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC) brasileiro, e do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA).
A previsão é de que, nos dois casos, os juros sejam mantidos no atual patamar. Eles estão em 15% ao ano no Brasil, caso da Selic, e no intervalo entre 4,25% e 4,50%, nos EUA.
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