Ronnie Lessa informou à PF que a negociação era em torno de terrenos milionários que podiam ter venda barrada por atuação de Marielle Franco
Manoela Alcântara/Metrópoles
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A vereadora do Rio Marielle Franco (PSol) foi morta por representar um obstáculo para a especulação fundiária da milícia, delatou seu assassino. Em documento entregue à Polícia Federal antes mesmo de fechar a delação premiada, o ex-policial militar do Rio de Janeiro Ronnie Lessa apontou que a motivação do crime contra a parlamentar envolvia interesses em condomínios. Segundo Lessa, em reunião realizada com Chiquinho e Domingos Brazão, em setembro de 2017, ficou acordado que as vendas dos loteamentos Nova Medellin e Nova Medellin II renderiam milhões de reais aos mandantes do crime e aos executores.
Em tópico da delação batizado como “motivação” pela PF, Lessa detalha que seriam feitos pela milícia dois loteamentos com 500 lotes cada, e cada lote com o preço de R$ 100 mil. Assim, as vendas totalizariam R$ 50 milhões, sendo 50% para os mandantes e 50% para Lessa e o intermediador, Macalé.
Veja relato de reunião intitulada “Operação Nova Medellin”:
Com a apuração dos elementos levantados por Lessa e as novas provas no decorrer do processo, ficou confirmado, ainda segundo a PF, que a disputa dos irmãos Brazão, um deputado federal e outro conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, se dava em torno do Projeto de Lei 174/2016 na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, que tratava da regularização de um condomínio na zona oeste do Rio de Janeiro.
Segundo anunciou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, em março, essa disputa foi um dos principais motivadores para as mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes, que ficou na linha de tiro.
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Lewandowski leu parte do relatório da Polícia Federal, com cerca de 470 páginas, que originou a identificação dos suspeitos de serem os mandantes do crime e a prisão deles. Citando a PF, o ministro da Justiça e Segurança Pública afirmou que o cenário teve um recrudescimento no segundo semestre de 2017, quando ocorreu a reunião entre Lessa e os irmãos Brazão.
Segundo o ministro, a votação do PL n° 174/2016 gerou uma “descontrolada reação” de Chiquinho Brazão contra Marielle. “Ficou delineada a divergência, no campo político, sobre questões de regularização fundiária e defesa do direito de moradia”, disse Lewandowski .
Marielle queria a regularização das terras para fins sociais, mas os irmãos Brazão, conforme aponta relatório da PF, queriam lucrar com os terrenos.
Enquanto os mandantes do crime buscavam a regularização de um condomínio na região de Jacarepaguá, Marielle, como vereadora, estaria articulando para que a ocupação do terreno fosse acompanhada pela Defensoria Pública e pelo Instituto de Terras e Cartografia do Rio.
Esse desentendimento e outras desavenças ao longo do mandato teriam irritado Domingos Brazão, que, ao lado do irmão, Chiquinho Brazão, e do então chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa, teria orquestrado o assassinato de Marielle.
Os envolvidos
Passados 6 anos do crime, em março deste ano, a Polícia Federal prendeu o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ); Domingos Brazão, que é conselheiro do Tribunal de Contas do Rio; e Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do RJ, que teria atuado diretamente para atrapalhar as investigações do crime.
Ex-chefe da PCRJ, Rivaldo Barbosa se dizia “amigo” de Marielle Fernando Frazão/Agência Bras
O deputado federal Chiquinho Brazão Câmara dos Deputados
O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) Domingos Brazão Tércio Teixeira/Flickr Domingos Brazão
Deputado federal Chiquinho Brazão foi citado em delação Agência Câmara
PF aponta que delegado arquitetou assassinato de Marielle Fernando Frazão/Agência Brasil
Ex-chefe da PCRJ, Rivaldo Barbosa se dizia “amigo” de Marielle Fernando Frazão/Agência Brasil
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