Ronnie Lessa disse que o ex-chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa era reverenciado pelos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão
Manoela Alcântara/Metrópoles
Fernando Frazão/Agência Brasil
Em manuscrito com letras de forma, o ex-policial militar do Rio de Janeiro Ronnie Lessa disse à Polícia Federal que o ex-chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa era reverenciado pelos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão como um “guru” no planejamento do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol) e do motorista Anderson Gomes em março de 2018. Os irmãos diziam, ainda, segundo Lessa, que Rivaldo era forte aliado. “O Rivaldo é nosso”, afirmaram em reunião para combinar a execução.
As falas são narradas por Lessa em texto escrito antes de fechar a delação premiada com a Polícia Federal. Ronnie Lessa informou ter renunciado a seu direito ao silêncio e decidiu fechar a colaboração premiada. Ele fez entrevista privada com seus advogados, e a proposta de colaboração premiada foi levada à Polícia Federal em material manuscrito, com anotações de Lessa.
No documento, o ex-PM escreveu a próprio punho que os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão chamavam Barbosa de “guru”. O ex-delegado era citado ainda como uma “garantia para o bom desfecho da missão e como autêntica ‘carta branca’ para o plano”.
Lessa, Rivaldo e os Brazão estão todos presos.
Leia também
- Caso Marielle: Moraes derruba sigilo da delação de Ronnie Lessa
- Marielle: vereador citado no caso tinha contrato com policiais
- Defesa de Rivaldo pede suspeição de Flávio Dino no caso Marielle
- Marielle: delegado apontado como autor questiona a Polícia Federal
Segundo relatou Lessa, no momento da “pré-delação”, os irmãos incluíam Rivaldo Barbosa “claramente como parte integrante do plano”. Lessa narra situação em que Macalé, interlocutor dos mandantes do crime, faz o seguinte comentário:
– Pô, padrinho. Se eu soubesse que o sr. tinha esse contato, eu não tinha nem sido preso. Foi a equipe do Rivaldo que me prendeu…
– Pô, negão. Tu não se comunica, cara. O Rivaldo é nosso. Ele segura tudo lá, “sem aval dele ninguém faz nada”.
Em uma segunda reunião para prosseguir a operação e mudar o local da execução para fora da Câmara dos Vereadores, mais uma vez Rivaldo surge como ponto-chave, conforme Lessa relatou à PF. “Logo após sugerirmos a ideia, ouvimos de Domingos: ‘É exigência do Rivaldo. Temos que cumprir do jeito que ele determinou’”.
Ainda nos termos escritos à mão, Lessa diz que Rivaldo “empurrou com a barriga” até o fim a intervenção federal no caso Marielle. “Não concluiu o caso propositalmente e nomeou Giniton (Lages), que era de sua confiança.”
Inocente
No âmbito das investigações, o delegado Rivaldo Barbosa, acusado de ser um dos mentores intelectuais do assassinato de Marielle Franco, foi ouvido na segunda-feira (3/6), na Penitenciária Federal de Brasília. Na ocasião, alegou inocência e voltou a repetir que nunca esteve com Domingos e Chiquinho até o momento de sua prisão, quando foram juntos no avião para sistema prisional na capital da República.
As informações nos manuscritos vieram à tona nesta sexta-feira (7/6), após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubar sigilo da delação premiada de Ronnie Lessa, apontado como o atirador responsável pelas mortes da vereadora Marielle Franco (PSol) e do motorista Anderson Gomes em março de 2018.