A Terra é uma oficina de trabalho para os que desenvolvem atividades edificantes, em favor da própria renovação. Já pensou nisso, caro ouvinte; um hospital para os que corrigem desajustes nascidos de vibrações pretéritas; uma prisão, em expiação dolorosa, para os que restam débitos relacionados com crimes cometidos em existência anteriores; uma escola para os que já compreendem que a vida não é um mero acidente biológico, nem a existência de uma simples jornada recreativa; mas não é o nosso lar. A Terra está no plano espiritual, onde podemos viver em plenitude, sem as limitações impostas pelo corpo carnal. Compreensível, pois, que nos preparemos, superando temores e dúvidas, inquietações e enganos, a fim de que, ao chegar nossa hora, estejamos habilitados a um retorno equilibrado e feliz.
O primeiro passo nesse sentido é o de tirar da morte o aspecto fúnebre, mórbido, temível, sobrenatural. Existem condicionamentos milenares nesse sentido. Há pessoas que simplesmente recusam-se a conceber o falecimento de um familiar ou um seu próprio. Transferem o assunto para um futuro remoto ou irreal. Para isso se desajustam quando chega o tempo da separação… Já vivi essa circunstância com a partida de meus pais, alguns irmãos e familiares que jamais esquecerei.
“Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” – perguntou o apóstolo Paulo em sua Carta aos Coríntios, capítulo 15, versículo 55, a demonstrar que a fé supera temores e angústias da grande transição. A vida religiosa nos oferece recursos para encarar a morte com idêntica fortaleza de ânimo, inspirados, igualmente, na fé. Uma fé que não é um arroubo de emoção. Uma fé lógica, racional, consciente. Uma fé inabalável de quem conhece e sabe o que espera, esforçando-se para que esse esperar seja o melhor. A iminência de uma morte dispara em nós um curioso processo de reminiscência. O moribundo revive, em curto espaço de tempo, as emoções de toda a existência, que se sucede em sua mente como um prodigioso filme com imagens projetadas em velocidade vertiginosa. É uma espécie de balanço existencial, um levantamento de débito e crédito na contabilidade divina, definindo a posição do Espírito ao retornar à Espiritualidade, em face de suas ações boas ou más, considerando-se que poderão favorecê-lo somente os valores que “as traças não roem nem os ladrões roubam”, como as que se referiam a Jesus, conquistados pelo esforço do Bem.
Trata-se de um mecanismo psicológico automático que pode ser disparado na intimidade da consciência sem que a morte seja consumada. São frequentes os casos em que o “morto” ressuscita, espontaneamente ou mediante a mobilização de recursos variados. Há médicos que vêm pesquisando o assunto, particularmente nos Estados Unidos, onde se descrevem experiências variadas de pessoas declaradas clinicamente mortas. Esse é um aspecto. Por outro lado, vale destacar que esses relatos confirmam as informações da Doutrina Cristã. Os entrevistados reportam-se ao “balanço” de suas existências. Abordam, também, temas familiares em relação ao corpo espiritual ou o pós mortem; a dificuldade de perceber a condição do “morto”; o contato com benfeitores e familiares; a facilidade em “sentir” o que as pessoas estão passando; a possibilidade de voltar, com incrível sensação de leveza; a visão dos despojos carnais e as impressões extremamente desagradáveis dos que põem um fim em suas próprias vidas. A experiência de reviver a própria existência em circunstância dramática pode representar para o redivivo uma preciosa advertência, conscientizando-o de que é preciso investir na própria renovação, a fim de não se situar “falido” no Plano estabelecido por Deus quando efetivamente chegar a hora de dizer o adeus.
Há, a respeito da morte, concepções totalmente distanciadas da realidade. Quando alguém morre fulminado por um enfarto, costuma-se dizer: “Que morte maravilhosa! Não sofreu nada!” No entanto, é uma morte indesejável. Falecendo em plena vitalidade, salvo se altamente assistido, ele terá problemas de desligamento e adaptação, pois serão muito fortes nele as impressões e interesses relacionados com a existência física. Em outras circunstâncias, se a causa da morte for após longos períodos de sofrimentos, em dores atrozes, com o paciente definhando lentamente, decompondo-se em vida, e, às vezes resmungando para si mesmo: “Que morte horrível! Quanto sofrimento.”
Algo semelhante ocorre com pessoas que partem em idade avançada, cumprido os prazos concedidos pela Providência Divina, e que mantiveram um comportamento disciplinado e virtuoso. Nelas a vida física extingue-se lentamente como uma vela oferecida aos Arcanjos, que se consome de forma lenta e gradual a sua luz, esta que proporciona ao indivíduo, um retorno tranquilo, sem maiores ou menores percalços, não é mesmo? A vida é assim: quando a morte chega, o ser humano deve estar preparado, sem apegos e sem temores. Pensem nisso, amigos e ouvintes. A morte é a única coisa certa que o ser humano tem certeza, na vida. O resto é balela ou um encher linguiça. Pensem nisso!