A partir de documentos enviados à CPMI, a comissão identificou transferências de recursos a igrejas e líderes religiosos
Isadora Teixeira/Metrópoles

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS aprofunda a apuração sobre movimentações financeiras entre igrejas e entidades investigadas no esquema de descontos ilegais em aposentadorias, revelado pelo Metrópoles.
A partir de documentos enviados à CPMI por órgãos como Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e Receita Federal, a comissão identificou transferências de recursos financeiros para igrejas, líderes religiosos e pessoas vinculadas a eles.
Integrantes da CPMI protocolaram requerimentos para verificar se esses valores são oriundos de recursos desviados de benefícios por meio de filiações fraudulentas, mensalidades indevidas e serviços não contratados.
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Os alvos da CPMI são organizações associadas à Igreja Batista de Lagoinha, redes ligadas ao pastor André Valadão e à Igreja Sete Church, vinculada ao pastor César Belluci. A Sete Church (foto em destaque), localizada em Alphaville (SP), recebeu R$ 694 mil, segundo dados enviados à comissão.
Os documentos também apontam que o pastor Péricles Albino Gonçalves, da Igreja Evangélica Campo de Anatote, de Barueri (SP), recebeu R$ 200 mil.
Outra conexão que entrou na mira da CPMI do INSS envolve o deputado federal Silas Câmara (Republicanos-AM). Uma das entidades investigadas, a Confederação Brasileira dos Trabalhadores de Pesca e Aquicultura (CBPA) repassou R$ 1,9 milhão à Network. Desse valor, R$ 146 mil foram destinados à Milena Câmara, advogada da entidade e filha do deputado Silas Câmara. O filho do parlamentar, Heber Tavares Câmara, recebeu R$ 37 mil da Network e mais R$ 37 mil da Conektah, que também foi destinatária de recursos da CBPA.
Outros R$ 9 mil foram enviados ao próprio parlamentar, que é presidente da Frente Parlamentar Evangélica. A Fundação Boas Novas, presidida pelo irmão do deputado, pastor Jônatas Câmara, recebeu R$ 11 mil.

Os parlamentares também querem esclarecer operações relacionadas a possíveis estruturas financeiras paralelas, como o Clava Forte Bank, suspeito de atuar como meio para esquentar o dinheiro captado com as fraudes.
A CPMI ainda tenta esclarecer o vínculo entre a Associação dos Aposentados do Brasil (AAB), suspeita de envolvimento nos descontos ilegais, e fundadores de igrejas evangélicas em Brasília.

Próximos passos
Para dar continuidade às investigações, a comissão aguarda a aprovação da quebra de sigilos bancários e fiscais de empresas e entidades envolvidas, relatórios de inteligência financeira sobre as transações e a oitiva de líderes religiosos.
Nessa fase, as instituições religiosas não foram acusadas, mas são alvos das investigações porque receberam recursos provenientes de entidades suspeitas de participação no esquema de fraude no INSS.
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