Polícia Civil prendeu nove pessoas, entre elas dois universitários do Distrito Federal envolvidos no esquema de produção de alucinógenos
João Paulo NunesCarlos Carone/Metrópoles

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) estima que o esquema da rede criminosa que produzia e distribuía cogumelos alucinógenos contendo psilocibina em larga escala faturou mais de R$ 26,5 milhões. Cerca de 150 policiais civis cumpriram 20 mandados de busca e apreensão e nove de prisões preventivas em Curitiba (PR), Joinville (SC), São Paulo, Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Vitória (ES) e no Distrito Federal.
O esquema, revelado pelo Metrópoles, tinha o faturamento médio do cultivador principal na casa dos R$ 400 mil por mês, enquanto o distribuidor do Distrito Federal lucrava R$ 35 mil por mês.
A Operação Psicose foi deflagrada pela Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) e contou com apoio da Polícia Civil de diversos estados. Foram às ruas agentes de MG, PA, PR, RS, SC, SP e ES.
Com a investigação, foi possível calcular, aproximadamente, o vasto faturamento gerado pela rede de distribuição de cogumelos alucinógenos nos anos de 2024 e 2025, revelando a escala da operação ilegal:

Faturamento estimado em cálculo feito pela PCDF
As investigações apontaram que, entre 2024 e 2025, 3.718 encomendas foram emitidas pelo esquema investigado, totalizando aproximadamente 1.329 quilos do material objeto dessa operação. Dentre os parceiros comerciais do cultivo de Curitiba, destacam-se seis grandes distribuidores, que possuem suas próprias plataformas de vendas.
Segundo os investigadores, o esquema nacional, que chegou a movimentar até R$ 200 mil por dia, operava de forma altamente profissionalizada e tinha ramificações em diversos estados.
No primeiro semestre de 2025, a Gerência de Segurança Corporativa dos Correios, no Distrito Federal, atuando em conjunto com a Receita Federal, efetuou a identificação e interceptação de remessas ilícitas de cogumelos alucinógenos no Centro de Distribuição.
Ao examinar o material, a PCDF identificou se tratar do esquema investigado na Operação Psicose. A apreensão foi fundamental para identificar a extensão da rede de distribuição, que também utilizava os serviços postais para a comercialização dos entorpecentes em território nacional.
Estratégia de marketing
As estratégias adotadas pela organização criminosa tinham como base grandes campanhas de marketing corporativo. A identidade visual do grupo utilizada era cuidadosamente elaborada para ser atrativa ao público jovem, com cores vibrantes, símbolos estilizados e design moderno, criando uma imagem de modernidade e descontração.
O grupo investia no patrocínio de feiras e festivais de música eletrônica, ambientes que facilitavam o contato direto com potenciais consumidores e reforçavam a associação da marca com experiências de lazer e entretenimento. Influenciadores digitais e DJs eram recrutados como promotores, atuando na divulgação dos produtos ilícitos em redes sociais e eventos.
Além disso, a organização utilizava táticas comerciais avançadas, como a distribuição de cupons de desconto personalizados, direcionados a públicos específicos para fidelização de clientes. Promoções temáticas eram lançadas em datas estratégicas, como Dia dos Namorados, Natal e Independência, reforçando o engajamento e estimulando o consumo.

Operação Psicose
Dois universitários do Distrito Federal foram presos na manhã desta quinta-feira (4/9): Igor Tavares Mirailh e Lucas Tauan Fernandes Miguins.
A coluna Na Mira apurou que Igor Mirailh esteve matriculado nos cursos de museologia, artes cênicas e comunicação social da Universidade de Brasília (UnB), embora não tenha concluído nenhum deles. Já Lucas Miguins, estudante de uma universidade particular, dividia com o colega a liderança de uma célula da organização criminosa instalada na capital do país.
Extremamente organizados, os dois universitários do DF mantinham uma linha de produção própria, cultivando diferentes espécies de cogumelos alucinógenos. Os produtos eram vendidos por meio de uma plataforma on-line com estrutura semelhante a de grandes sites de comércio eletrônico: catálogo de variedades, fotos em alta resolução, descrições detalhadas e métodos de pagamento variados, como transferências bancárias, cartão de crédito e Pix.
Centro logístico
O trabalho de inteligência da Cord revelou a existência de um verdadeiro centro de distribuição em Curitiba (PR). No local, a produção ocorria em escala industrial, com capacidade de abastecer a rede em nível nacional. O espaço funcionava como o coração da organização criminosa, de onde partiam remessas para diferentes estados.

As investigações também apontaram empresas de fachada em Santa Catarina e no próprio Paraná, registradas formalmente em setores como comércio de alimentos, mas utilizadas para ocultar as atividades ilegais e facilitar a lavagem de dinheiro.
Estrutura milionária
De acordo com a Cord, a rede movimentava cifras milionárias, graças a uma combinação de produção avançada, logística eficiente e marketing digital agressivo. A plataforma on-line recebia acessos de diferentes regiões do Brasil, e a facilidade de pagamento e entrega atraía cada vez mais consumidores.
“Estamos diante de um esquema criminoso altamente profissionalizado, que se aproveitava das ferramentas do comércio eletrônico para ampliar seus lucros e dificultar o rastreamento policial”, afirmou um delegado responsável pelo caso.
As investigações continuam para identificar possíveis financiadores e mapear o fluxo financeiro do grupo.
Destaques da Operação Psicose:
- Nove prisões preventivas decretadas.
- 20 mandados de busca e apreensão em seis estados e no DF.
- Centro de distribuição descoberto em Curitiba (PR).
- Universitários do DF presos por manter linha de produção própria.
- Esquema movimentava até R$ 200 mil por dia.
Quer ficar ligado em tudo o que rola no quadradinho? Siga o perfil do Metrópoles DF no Instagram.