Mirelle Pinheiro/Letícia Guedes/Metrópoles
Em agosto de 2014, encerrou-se o ciclo brutal com 15 mulheres assassinadas. O terror na capital goiana teve início em janeiro daquele ano

De janeiro a agosto de 2014, a capital goiana esteve sob uma nuvem sombria de terror que amedrontou todas as mulheres, independentemente de idade ou classe social. Movido pelo ódio e operado por sua mente doentia, Tiago Henrique Gomes da Rocha saía de casa em uma motocicleta com um único objetivo: ceifar vidas.
Foram 15 mulheres assassinadas entre janeiro e agosto de 2014, todas mortas a tiros. O algoz usava sempre o mesmo modus operandi, pilotando uma motocicleta, em que colocava placas roubadas, se aproximava e atirava para matar e, depois, fugia sem levar nada.
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O serial killer não as conhecia. As vítimas eram escolhidas aleatoriamente. Algumas tinham características em comum, outras, nada — além do fato de ser mulher.
Alto, com aproximadamente 1,87m, e porte atlético, Tiago estava acima de qualquer suspeita. À época, trabalhava como vigilante em um hospital materno infantil. Apesar de ser descrito como tímido e calado, tinha um relacionamento normal no ambiente de trabalho, segundo seus colegas.
No entanto, era em cima da motocicleta preta, escondido atrás de um capacete da mesma cor, que o lado sombrio da mente do homem tomava o controle de suas ações.Play Video
Sequência brutal
A série de assassinatos de mulheres teve início em janeiro de 2014. A primeira vítima do ciclo de terror foi Beatriz Cristina Oliveira Moura, à época com 23 anos. Era manhã de domingo, 19 de janeiro, quando a jovem foi surpreendida no momento em que estava a caminho de uma padaria, no Setor Nova Suíça, região sul da capital goiana.
Menos de um mês depois, em 3 de fevereiro, Tiago fizera sua segunda vítima. Lilian Sissi Mesquita e Silva, 28 anos, seguia para a escola dos filhos, à época com sete e 10 anos, quando foi atingida por um disparo no peito. Dessa vez, o crime ocorreu no Setor Cidade Jardim, região oeste da cidade.
No terceiro ataque, o maníaco simulou um assalto. Ana Maria Victor Duarte, filha do promotor Uigvan Pereira Duarte, foi morta em 14 de março. Acompanhada do namorado e de uma amiga, foi abordada. Ela levou um tiro ao afirmar que não estava com o aparelho. O assassino fugiu sem levar nada.
Estava iniciada, então, a sequência de assassinatos. Dali para frente, outras 12 mulheres foram mortas, em menos de cinco meses.
Wanessa Oliveira Felipe, 22 anos, teve sua vida interrompida em 23 de abril. Ela estava em uma farmácia no Bairro Goiá, região oeste da cidade, quando Tiago se aproximou e a atingiu.
Depois de Wanessa, a vítima escolhida foi Janaína Nicácio de Souza, 25 anos. Em 8 de maio, ela estava em um bar do setor Jardim América, região sul, acompanhada de um amigo, quando serial killer se aproximou e a matou. Ela estava sozinha, pois o jovem havia ido ao banheiro.
Bruna Gleycielle de Sousa Gonçalves, 26 anos, foi uma das vítimas mais velhas. Ela foi morta no mesmo dia que Janaína, quando estava em um ponto de ônibus no bairro Jardim América, após sair do trabalho. Ela era filha do sargento aposentado da Polícia Militar de Goiás, Clinger Gonçalves Oliveira, e mãe de um menino de 7 anos.
Com apenas 15 anos, Isadora Aparecida Cândida dos Reis foi morta
na tarde de um domingo, 1° de junho. O maníaco fingiu que a assaltaria, mas, enquanto ela pegava o aparelho para entregá-lo, pediu que ela se virasse e deu um tiro em suas costas. Isadora era irmã do jogador de futebol Giovanni Cândido.
A vítima mais nova foi Thaynara Rodrigues da Cruz, 13 anos. A menina estava com uma amiga na Praça da Bandeira, no Bairro Goiá, quando Tiago a baleou. Após o crime, ele ordenou que a amiga da adolescente corresse, sem olhar para trás.Thaynara foi morta em 13 de junho.
Diferente das demais vítimas, Juliana Neubia Dias, 22 anos, estava dentro de um carro. Quando o veículo parou em um semáforo, o matador em série parou sua motocicleta com o banco do carona e a atingiu. Ela chegou a ser levada a uma unidade de saúde, mas não resistiu.
A morte de Ana Lídia fechou o ciclo de ataques. Em 2 de agosto, a menina foi assassinada em um ponto de ônibus do Setor Cidade Jardim. Ela se encontraria com sua mãe, que trabalhava na Feira da Lua. Hoje, a mãe de Ana Lídia é conhecida por ser a influenciadora digital Ada Marselha.
Foi o assassinato de Ana Lídia que provocou uma força-tarefa que culminou na prisão do maníaco de Goiânia (GO).

11 imagens




Investigações
Espaçados, inicialmente, os crimes eram apurados de maneira singular. No curso das investigações, porém, a Polícia Civil de Goiás obteve imagens de Tiago captadas por câmeras de segurança instantes depois e próximas aos locais dos crimes.
Em algumas delas, Tiago aparecia empunhando uma arma, em assaltos a pontos comerciais.
Em 4 de agosto, foi implantada uma força-tarefa pela polícia civil, da qual participaram dezesseis delegados, trinta investigadores e 10 escrivães.
A prisão ocorreu, finalmente, em 14 de outubro de 2014. Tiago foi encaminhado à Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH) de Goiânia, onde foi interrogado e confessou os crimes.
Uma semana depois da prisão, a polícia já tinha comprovado por meio de exames periciais, que oito das vítimas haviam sido atingidas por projéteis disparados por uma arma apreendida na casa de Tiago.
O início da crueldade
Inicialmente, Tiago confessou que, de 2011 a 2014, foi o responsável por ceifar a vida de 39 pessoas. Tamanha crueldade era percebida em seu próprio depoimento, em que indentificava e se referia às vítimas por números.
À época, ele declarou que a primeira vítima foi Diego Martin Mendes, morto aos 16 anos, em 2011. As duas próximas vítimas também foram homens, descritos por Tiago como homossexuais.
Após isso, o homem vitimou prostitutas e homens em situação de rua. As investigações constataram que o modo de operar era diferente a depender do perfil das vítimas: prostitutas eram esfaqueadas, moradores de rua eram mortos a tiros e homossexuais eram estrangulados.
Entretanto, ao longo das investigações, o maníaco voltou atrás, afirmando que era responsável pela morte de 29 pessoas. Apesar disso, as investigações concluíram que o homem ceifou, friamente, a vida de pelo menos 38 pessoas.
Ele foi condenado a penas que ultrapassam 640 anos de reclusão em regime fechado. Atualmente, está detido no Núcleo de Custódia de Aparecida de Goiânia, onde permanece isolado.
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