Ludopatia: vício em jogos de azar online é tema de dois programas da Rádio MP

Especialista e vítima relatam impactos sociais, legais e psicológicos do vício em apostas online, que cresce com a popularização das plataformas digitais no Brasil

Vício em jogos de azar online é o tema de dois episódios do programa Rádio MP Entrevista, da Rádio MP, emissora do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Os episódios abordam tanto a perspectiva institucional quanto a vivência pessoal de quem foi afetado pelas apostas virtuais. De um lado, o procurador de Justiça Fernando Martins analisa os impactos legais e sociais da proliferação das chamadas “bets”, as casas de apostas online. Do outro, João Vítor, um jovem que compartilha nas redes sociais sua trajetória de ilusão e perda com os jogos, relata como o vício se instalou em sua vida.

Fernando Martins, com longa atuação na defesa do consumidor, destaca a contradição entre a legislação brasileira de prevenção ao superendividamento e as leis que legalizaram as apostas esportivas e jogos online. Segundo ele, a Lei nº 14.181/2021 busca proteger o cidadão do endividamento extremo, enquanto as Leis nº 13.756/2018 e nº 14.790/2023 abriram espaço para a legalização das apostas, inclusive em jogos de sorte como os populares “tigrinhos”. “O direito chega a ser hipócrita”, afirma o procurador, ao criticar a falta de coerência entre as normas. Ele alerta que o vício em jogos, reconhecido como ludopatia, tem levado milhões de brasileiros ao endividamento e à exclusão social.

A chegada das “bets” ao Brasil, segundo Martins, representou um retrocesso. Embora a regulamentação tenha sido defendida como forma de combater a lavagem de dinheiro e a corrupção, ela ignorou os efeitos sociais e psicológicos das apostas. O procurador aponta que o país já soma cerca de 70 milhões de superendividados, número que cresceu significativamente após a legalização das apostas. Ele defende que o Ministério Público atue de forma mais incisiva, ajuizando ações para anular apostas abusivas e buscar a restituição dos valores perdidos pelos consumidores.

Na outra ponta da discussão, João Vítor compartilha sua experiência pessoal com os jogos de azar. O vício começou com jogos simples, como o Dragon Tiger, e rapidamente evoluiu para apostas em plataformas online. “Eu fiz mais que o meu salário em algumas horas de jogo”, lembra. No entanto, a euforia deu lugar à frustração quando perdeu tudo em poucos minutos. A sensação de controle e a promessa de ganhos fáceis o levaram a um ciclo compulsivo de apostas, que afetou sua saúde mental e sua vida financeira.

MPMG

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