Zambelli diz se sentir abandonada por Bolsonaro: ‘esperava apoio’

Em entrevista à Folha de S. Paulo, deputada federal citou também o episódio em que perseguiu um opositor com uma arma de fogo: ‘devia ter ido embora’

Bruno Favarini/Itatiaia

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O ex-presidente Jair Bolsonaro e a deputada Carla Zambelli em 2019

Marcos Correa/PR

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) afirma estar vivendo um dos momentos mais difíceis de sua trajetória política. Investigada por perseguir um homem com uma arma de fogo, ela se disse, em entrevista à Folha de S. Paulo publicada neste domingo (30), decepcionada com a falta de apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem sempre esteve ligada politicamente.

A relação entre os dois sofreu um abalo recente quando Bolsonaro declarou que a deputada teve responsabilidade pela derrota da direita nas eleições de 2022. “A Carla Zambelli tirou o mandato da gente”, disse o ex-presidente, em referência ao episódio da perseguição que aconteceu pelas ruas de São Paulo na véspera do segundo turno. Para Zambelli, a fala foi um golpe duro. “É um peso bastante grande ter ouvido aquilo. Pesou bastante nas minhas costas”, afirmou. “Desde 2022 enfrento depressão por causa desse episódio e tive vários momentos bem ruins. Ter ouvido isso dele me deixou bastante chateada”.

A deputada não esconde o sentimento de abandono. Questionada se se sentia deixada de lado por Bolsonaro, ela confirmou. “Acho que esperava apoio. Desde 2013 eu apoio o Bolsonaro. Antes como ativista, depois ajudando na eleição de 2018 e, durante todo o governo, fui uma das pessoas mais na linha de frente dentro do Congresso para defender o presidente. Esperava ter algum tipo de retribuição em relação a isso. Ou seja, contar com a amizade dele nesse momento difícil. Mas acho que não só eu como outras pessoas também perderam a amizade do presidente no momento que precisaram”.

Apesar da decepção, Zambelli afirma que ainda acredita na força do bolsonarismo, mas se mantém distante das manifestações que pedem anistia aos envolvidos nos atos golpistas. “Não, eu não vou no dia 6 de abril, porque é sobre anistia. Se chegar na Câmara para votar, vou votar a favor, mas não posso agora me colocar em risco no meio do meu julgamento”.

Eleições 2026

Quanto ao futuro da direita para as eleições presidenciais de 2026, a deputada vê alguns nomes viáveis, mas destaca a necessidade de uma definição clara com antecedência. “Tem a Michelle, a esposa do Bolsonaro, que é uma excelente candidata. O Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo] também é outra opção. Só espero que a gente tenha isso com antecedência, que nos digam com antecedência para a gente poder trabalhar”, afirmou.

Apesar de reconhecer a viabilidade do governador paulista, ela mantém reservas: “Ele hoje é uma pessoa que agrada também à esquerda, agrada o sistema, porque ele tem uma certa entrada pelo STF, tem amizade com alguns ministros. Acho que talvez o Tarcísio seja um bom nome na perspectiva do Bolsonaro”. Já em sua própria avaliação, Zambelli afirma: “O Eduardo [Bolsonaro, deputado federal e filho do ex-presidente] é um bom nome, mas não sei se ele teria o apoio da população como um todo. E a própria Michelle, eu gosto muito do nome dela. Independente do que o Bolsonaro falou sobre mim”.

Sobre o indiciamento de Bolsonaro no caso da trama golpista, Zambelli defendeu o ex-presidente e minimizou as investigações sobre uma possível tentativa de subversão da ordem democrática. “Acho que é absurdo. Como é que um artifício, uma lei que está dentro da Constituição Federal, pode ser golpe? Acho que não tem nada a ver. Primeiro, porque não foi colocado de fato. Pode ter sido aventado, mas não foi colocado em votação. E segundo que não houve golpe. O Lula teve o poder, pegou o poder e continuou no poder numa boa”.

Zambelli pode ser cassada

A deputada também comentou o processo que pode resultar na cassação de seu mandato e sua condenação no STF por porte ilegal de arma. “No caso da cassação, a gente tem o TSE agora, para recorrer. É lógico que as chances são baixas, mas a gente vai recorrer e vai tentar. [Senão] não só eu perco o mandato, mas os deputados que foram levados com os meus votos”.

Sobre a condenação no STF, ela acredita que pode haver uma reavaliação. “Acho que o Gilmar Mendes, o ministro relator, e os outros ministros que já votaram, eles eventualmente podem não ter visto meu porte [de arma] lá na minha defesa, mas eu tinha porte federal.”

Apesar das dificuldades que enfrenta, Zambelli não pretende abandonar a política. Caso fique inelegível, já tem planos para um retorno no futuro. “Pretendo, em 2030. Não vão se livrar tão cedo de mim”.

Questionada se há algo de que se arrepende, a deputada citou o episódio que a colocou em evidência negativa na eleição de 2022. “Esse dia de ter ido atrás desse rapaz. Devia ter entrado no carro e ido embora, como fazia sempre todas as vezes que tentavam, até hoje, que tentam brigar comigo na rua. Esse dia foi o único que eu não saí, infelizmente. Mas me arrependo, deveria ter saído”.

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