“Delação potencializou morte”, diz advogado de rival do PCC fuzilado

Empresário Antônio Vinícius Gritzbach, de 38 anos, fechou delação premiado com o MPSP na qual falou sobre lavagem de dinheiro do PCC

Alfredo Henrique/Metrópoles

Câmera Record/Reprodução

O empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, morto a tiros no Aeroporto de Guarulhos Metropoles

São Paulo  Uma delação premiada na qual o empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, de 38 anos, aponta membros do crime organizado envolvidos em um esquema milionário de lavagem de dinheiro, teria sido o estopim para seu assassinato, ocorrido na tarde dessa sexta-feira (8/11), no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na região metropolitana da capital.

“A delação potencializou a morte dele, não foi determinante, mas potencializou”, afirmou em entrevista ao Metrópoles, no início da tarde deste sábado (9/11), o advogado Ivelton Salotto. Ele defendia Gritzbach em dois processos, um de homicídio, contra um chefão do Primeiro Comando da Capital (PCC), e outro de lavagem de dinheiro. Porém, quando soube sobre a delação, decidiu renunciar ao cargo.

“Renunciei porque eu sabia que a delação potencializaria a morte dele, por isso sai do caso”, reforçou o ex-defensor, ressaltando que seu cliente era inocente no processo de homicídio e que, no de lavagem de dinheiro, operava como administrador, sem ter envolvimento direto com práticas criminosas.

Morte de chefão do PCC
Gritzbach fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MPSP), homologado pela Justiça neste ano.
Em seu relato, ele fala sobre lavagem de dinheiro para personagens como Anselmo Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, e Claudio Marcos de Almeida, o Django. Eles foram sócios da empresa de ônibus UpBus, que opera linhas na zona leste da capital e está sob intervenção da Prefeitura paulistana após ter sido alvo de uma operação por suposta ligação com o PCC.

Executado em dezembro de 2021, Cara Preta era membro do alto escalão do PCC e, sobre ele, recaía a suspeita de manter movimentações de até R$ 200 milhões. Investigadores atribuem a morte dele a Gritzbach, em razão de um desentendimento entre os dois. Segundo o MPSP, o empresário teria mandado matar o traficante após ser cobrado por uma dívida em um investimento em bitcoins.

Quando foi preso e antes de fazer delação premiada, em 2022, Gritzbach afirmou ter conhecido Django e Cara Preta como bicheiros e agentes de atletas de futebol. Ele negou ser o mandante do crime.

“Se ele não fosse absolvido nesse homicídio, eu prometi que rasgava meu diploma e parava advogar. Porque não ia acreditar em mais nada. Não há nenhuma prova de que ele participou [do crime]”, afirmou o advogado Ivelton Salotto, ainda neste sábado ao Metrópoles.

A execução no aeroporto
Antônio Vinicius Lopes Gritzbach voltava de uma viagem junto com a namorada quando foi executado na tarde dessa sexta-feira (8/11), na área de desembarque do Terminal 2 do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.

Conforme apurado pelo Metrópoles, o empresário foi morto com um tiro de fuzil no rosto. Os filhos foram buscá-lo com quatro seguranças, todos PMs — dois acabaram baleados no atentado. O carro da filha quebrou e ficou em um posto, e o filho seguiu ao encontro do pai com os quatro seguranças.

Uma mulher de 28 anos que também foi atingida recebeu atendimento médico e foi liberada ainda nessa sexta.

A SSP confirmou neste sábado que dois homens, de 39 e 41 anos, continuam internados no Hospital Geral de Guarulhos, na região metropolitana da capital. O estado de saúde deles não foi divulgado.

Câmeras de segurança registraram o momento em que os atiradores descem de um carro preto e executam o empresário.

Ainda de acordo com as informações apuradas pelo Metrópoles, o empresário teria sido morto na frente do filho. Foram disparados 29 tiros pelos executores.

Gritzbach era jurado de morte pelo PCC por supostamente ter mandado matar dois integrantes da facção, Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, motorista de Anselmo. Ele estava fora da prisão desde junho do ano passado, após ter fechado acordo de delação premiada com o MPSP, homologado em segredo de Justiça.

Em dezembro do ano passado, Gritzbach havia sido alvo de um suposto atentado na sacada do apartamento em que morava, no bairro Anália Franco, na zona leste da capital paulista. Na denúncia, o MPSP diz que o empresário mantinha negócios na área de bitcoins e criptomoedas.

O duplo homicídio ocorreu em 27 de dezembro de 2021 e teria sido cometido em parceria com o agente penitenciário David Moreira da Silva. Noé Alves Schaum, denunciado por ser o executor dos membros do PCC, foi assassinado em 16 de janeiro do ano passado.

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