Marcos Gabiroba e a crônica da semana “Vivemos uma vida com máscaras ou sem máscaras?”

No dia a dia, não raro nos identificamos a tal ponto com certos papéis que desempenhamos que, acabamos nos esquecendo de nós mesmos. Não é verdade?  A vida fica mais leve e mais divertida se não perdermos de vista sua transitoriedade e o seu objetivo. Estamos neste mundo para expandir, para multiplicar nossos talentos, e isto só é possível através da experiência, quer dizer, passar pelos papéis, por diferentes personagens e vivenciar cada um deles e absorver se ensinamento, pois cada um espelha uma faceta do nosso profundo eu e serve à sua manifestação. Mãe, pai, filho, artista, criança, humorista, carinhoso, zangado, namorado, político, dengoso, esportista, vaidoso, operário, aluno, mestre, comerciante, e assim por diante, são papéis importantes que “estamos” desempenhando para a nossa própria evolução e bem-estar, não é mesmo? No momento em que acreditamos ser um deles, pode se converter em uma prisão, ocupando a maior parte do nosso espaço interno. Já pensou nisso, caro ouvinte? Paradoxalmente, é exercitando a versatilidade que nos aproximamos mais e mais do indivíduo, ou seja, da nossa verdadeira natureza indizível, em vez de nos prendermos a um ou outro personagem. Mudar não é errado nem feio, ao contrário, é necessário e bom. Imagine alguém vivendo numa bonita floresta, cheia de pássaros, animais silvestres, muitas árvores, rios caudalosos, onde se encontram frutos saborosos e lindas paisagens. Querendo ou não, na sua imaginação, você se instala num pequena lareira, ali constrói uma morada e nela permaneça para sempre, pois se trata de um lugar seguro. A pessoa que desenvolve a capacidade de mudar torna-se cada vez mais livre, inclusive para livrar-se de sua máscara. É comum vivenciarmos situações difíceis, aparentemente sem solução, quando bastaria tão somente verificar dentro de nós, com honestidade e transparência, se não estaríamos alimentando com a rigidez de algumas crenças à quais atribuímos um valor absoluto. Uma postura que foi adequada no passado, hoje pode ser geradora de conflitos, não é mesmo? Assim como os sapatos (lembrei-me do Marconni, Marcial Antonio Peixoto de Melo) deixam de servir, nossos valores e regras de conduta, quando não são flexíveis, podem criar um grande desconforto na nossa vida. Desempenhamos na vida muitos papéis e nisso não há qualquer problema, pois precisamos deles para interagir no mundo. Mas, infelizmente somos frutos de uma educação que cultua a “personalidade forte” e crescemos com receio de mudar de opinião, mudar de preferências e estilo, como se isso fosse uma coisa natural. O que pensamos hoje pode ser diferente do que pensávamos ontem e do que pensaremos amanhã, simplesmente porque, minuto a minuto recebemos uma infinidade de estímulos e informações diferentes.

 Posemos sair de casa com uma ideia a respeito de um assunto qualquer, e, no trajeto, presenciar algo que nos faz mudar de opinião. Para isto precisamos estar sensíveis e receptivos, senão continuaremos com as mesmas ideias fixas. Precisamos, na vida, viver o momento e dele fazer parte. Em algum momento de nossas vidas somos levados a acreditar que gente grande tem que ser “coerente” e isso quer dizer agarre-se ás suas ideias e defenda-as com punhos de ferro; seja sério, não mude, você não é mais uma criança. Aí começamos a desempenhar o papel de adultos; cada dia mais hábeis, tão convincentes que, por fim, acabamos nos distanciando do espírito de quando éramos criança.

Quando nos distanciamos das nossas aspirações mais profundas, do nosso caminho pessoal, singular e intransferível, passamos a não mais atender ao chamado da vida, da novidade e da aventura de viver, porque só o que fazemos é cumprir as normas e expectativas dos outros em relação aos nossos papéis.  Desgarrados dos papéis e, consequentemente, das cobranças externas, seremos mais livres para pensar novas ideias, rever valores e mandar para o museu o que já não serve mais, Agiremos com maior flexibilidade e fluidez, aceitando correr os riscos necessários, aceitando perder a segurança daquilo com o qual já nos acostumamos, para poder ganhar o novo. E essa vontade de nos transformarmos e de explodir o nosso universo é o maior sinal de que estamos vivos. Quando adiamos aquilo que precisa ser feito, amargamos um tédio indisfarçável e convivemos com as somatizações que, inevitavelmente, aparecem.

Mas a vida é um milagre e por isso ela chama, chama, chama, sempre, incansável e amorosamente, a cada um de seus filhos. Quando começamos a despertar gradativamente do sono da inconsciência, somos mais um ponto de luz a brilhar nesta nova civilização nascente. Nossa responsabilidade? Ser… Ser e expressar a nossa essência, encontrando o nosso verdadeiro lugar na magnífica sintonia do Universo. Já pensou nisso caro ouvinte? Entre o pedir e o merecer existe o agradecer. Entre o plantar e o colher existe o cuidar e o regar. Entre o visualizar e o esperar existe o compreender e o que faz ser. Entre o chegar e o serenar existe o perseverar e o confiar. Entre o pensar e fazer existe o decidir e o insistir. Entre o sonhar e o realizar existe o trabalhar e o caminhar. Entre o focar e o encontrar existe o priorizar e o arriscar. Entre o lamentar e o criticar existe o aprimorar e o comungar. Entre o compreender e o desejar existe o silenciar e o mergulhar. Entre o conhecer e o saber existe o dedicar e o amar. Entre o cobrar e o exigir, existe o testemunhar que nos faz contagiar. Assim é a vida caro ouvinte. Para cada coisa que queremos nesta vida existe o existir. Sem não somos absolutamente nada. Existir é para existir mesmo e não sermos um pária na vida.

Na vida, em vez de sermos apenas uma pessoa boa, esforcemo-nos para criar um estado de coisas que torne possível a bondade; alguns juízes são absolutamente incorruptíveis; ninguém consegue induzi-los a fazer justiça; se não morre aquele que escreveu um livro e planta uma árvore, com mais razão não morre o educador que semeia vida e escreve na alma. Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver. Na vida, faça vistas grossas para as pequenas falhas, porém,  não esqueça das grandes que temos. Ser ignorante não é uma vergonha tão grande como ter má vontade de aprender. Deus ajuda aqueles que se ajudam. Onde o bom senso é incompleto, tudo é incompleto. Orgulho que almoça vaidade janta o desprezo. A sorte me acompanha, tenho o corpo fechado à inveja, a intriga não me amarra os pés. A vida é feita de acontecimentos comuns e de milagres. Mesmo eu sabendo o que era o amor, percebi conscientemente, que era coisa boa. O humor não é coisa da juventude. A poesia não está nos versos, por vezes ela está no coração. E é tamanha a ponto de não caber nas palavras. Na vida aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos e nem a atravessar a rua para visitar nossos vizinhos, não é mesmo?

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